Investigação da Polícia Civil conduzida pela Delegacia Estadual de Investigações Criminais (DEIC) aponta que as torcidas organizadas que atuam em Goiás funcionam como suporte para grupos criminosos, sobre os quais há acusações de formação de quadrilha, apologia ao crime, envolvimento em homicídios - neste ano, quatro filiados das três organizadas foram assassinados -, tráfico de drogas, incitação à violência, porte ilegal de armas, entre outras acusações.

Por isso, a Polícia Civil vai pedir na segunda-feira que a Justiça suspenda as atividades e interdite as sedes das torcidas Força Jovem Goiás, Torcida Esquadrão Vilanovense e Sangue Colorado - ligadas a Goiás e Vila Nova, clubes que se preparam para mais um clássico, no próximo sábado, 6 de agosto. Relatório da Polícia Civil apresentado ontem aponta que já foram identificados 17 membros de organizadas que tiveram participação direta em crimes como roubo, homicídios, porte ilegal de armas e tráfico de drogas.

Dez diretores de três grupos (três da Sangue Colorado, quatro da Força Jovem e três da Esquadrão Vilanovense) serão indiciados pela prática de apologia ao crime, incitação à violência e formação de quadrilha. Em inquérito conduzido pelo delegado Marco Antônio Morbeck, adjunto da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), foram realizadas diligências nas sedes das três torcidas, onde procedeu a busca e apreensão de documentos sobre seus associados. Durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão nas sedes das torcidas organizadas, a polícia apreendeu dois integrantes da Esquadrão Vilanovense portando maconha e um da Força Jovem com cocaína.

O delegado ressalta que as torcidas possuem uma série de irregularidades, como a falta de alvarás de funcionamento e sanitário, entre outras. O diretor-geral da Polícia Civil em Goiás, Edemundo Dias de Oliveira, lembrou que as torcidas começaram a ser investigadas a partir da confusão generalizada ocorrida no último jogo entre Goiás e Vila Nova, no início de maio, que culminou na morte de Kaio Lopes de Oliveira, de 19, torcedor do Goiás. A briga começou no campo, entre os jogadores dos dois times, ganhou o estádio e as ruas.

Relatório

Um relatório com quatro volumes, totalizando aproximadamente 2 mil páginas sobre a existência de grupos criminosos atuando em torcidas organizadas de Goiânia é o que vai embasar o pedido que a Polícia Civil fará à Justiça para a interdição de três dessas agremiações até o próximo sábado, data do jogo entre Vila Nova e Goiás pela série B do Campeonato Brasileiro.

Essa é uma das principais medidas para evitar mortes de torcedores e outros episódios violentos no maior clássico do futebol goiano, a exemplo do que tem ocorrido em outros jogos - desta vez, potencializado pelo acirramento dos ânimos com prisões de líderes de torcidas. O pedido será assinado por delegados e a medida é prevista no Estatuto do Torcedor.

Edemundo explica que será pedida a interdição definitiva dos locais que servem de sede para essas torcidas e a suspensão temporária de suas atividades até que elas se enquadrem no que prevê o Estatuto do Torcedor. A investigação da Deic que resultou no pedido abrange um período de três anos e meio. "Se tivermos decisão favorável, cumpriremos imediatamente os mandados", adiantou. Além disso, explicou, todos os membros dessas agremiações estão sendo investigados. "Se alguém se meter em confusão, vamos pedir a medida cautelar para impedir que entre novamente em estádios", afirma o delegado.

Além do encaminhamento do pedido de interdição das sedes das torcidas e suspensão das atividades, Edemundo afirma que várias medidas serão adotadas nos próximos jogos realizados em Goiânia, em parceria com o Ministério Público, Polícia Militar e Poder Judiciário, para conter a violência dentro e fora dos estádios.

As ações incluem a utilização de câmeras de monitoramento, aumento do efetivo da Polícia Civil e instalação de um juizado no local, para que as ocorrências sejam atendidas na hora. Além disso, em todos os jogos haverá o funcionamento de uma delegacia dentro do no estádio, para atendimento imediato - estratégia já adotada em outras ocasiões.

A Polícia Civil, em conjunto com a Polícia Militar (PM), o Ministério Público (MP) estadual e o Tribunal de Justiça (TJ), está montando uma grande operação para o jogo do próximo sábado. A intenção é montar uma estrutura completa no Estádio Serra Dourada, concentrando, no local, delegados, agentes, escrivães e ainda promotores e juízes. "Se a pessoa for presa cometendo delitos, deve ser punida lá mesmo", adianta. "Estaremos unidos para conter qualquer ato criminoso". O grupo de elite da Polícia Civil, o GT-3, também participará.

O delegado, no entanto, diz que, mesmo com todas as medidas, não é possível assegurar que não haverá mortes de torcedores, como lamentavelmente tem acontecido em dias de clássicos. "Estamos tomando todas as medidas, mas não temos condições de estar em todos os lugares. Homicídio é difícil prever, mas faremos o possível para evitar qualquer tipo de crime", garante o delegado.
fonte: o popular
folha 11:54