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14 outubro 2012

Jovens infratores: frieza e crueldade


GOIÁS

Adolescentes comandam tráfico, estupram, roubam e matam. Além dos altos índices, comportamento surpreende autoridades em Goiás

GALTIERY RODRIGUES
Em 13/10/2012, 23:30
Que o envolvimento de jovens no mundo dos crimes está aumentando é fato, mas o que tem chamado a atenção mesmo, nos últimos anos, é a crueldade e a frieza deles na hora de cometer a infração. Delegados da área de proteção à criança e promotores que acompanham diariamente a realidade destes jovens certificam a impressão de postura inconsequente e, na maioria dos casos, sem justificativa ou razão. Falta de acompanhamento familiar, problemas em casa, más influências e, principalmente, uso de drogas são possíveis causas.
Acompanhar a realidade de uma Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depai) significa lidar com histórias dos mais diversos níveis de crueldade. Não é difícil encontrar exemplos de jovens, que, apesar da pouca idade, são especialistas no crime e não temem qualquer represália. São chefes do tráfico, donos de bocas de fumo, estupradores, ladrões e assassinos. Ainda faltam mais de dois meses e meio para o ano acabar e a quantidade de adolescentes apreendidos, em Goiás, acusados de tentativa de homicídio e homicídio doloso é mais que o dobro de todo o ano passado.
Em 2011, foram recolhidos 23 jovens acusados de tentativa de homicídio e outros dois de homicídio doloso, em Goiás. Este ano, os números já atingiram 46 e cinco, respectivamente. A titular da Depai, em Goiânia, a delegada Nadir Cordeiro, diz se espantar sempre, apesar dos mais de oito anos na função. “A quantidade de autos infracionais graves aumentou e eles estão praticando sem nenhum arrependimento”, afirma. Segundo ela, é notória, nos casos de homicídios, a quantidade exagerada de facadas e tiros, assim como a ausência de arrependimento. “Se tivessem que fazer, fariam tudo de novo.”
Nadir lembra de casos recentes, em que o menor depois de matar a vítima, ainda, passou com uma moto em cima do corpo; um outro assassinou com tijoladas na cabeça; e um terceiro brigou com um policial militar, tomou-lhe a arma e o matou em seguida. Cada dia que passa, a delegada diz se sentir mais impotente. Esse sentimento, por um lado, é explicado pela sensação que ela tem ao conversar com os menores autores de crimes graves – “parece que é para sentir mesmo o prazer de matar e descarregar uma raiva e um ódio descomunal”, diz –, por outro, é por causa da percepção do alto índice de reincidência dos menores.
Drogas
O vaivém de adolescentes na Depai é explicado, essencialmente, pelo envolvimento deles com droga. E eles não são presos por cometerem tráfico, mas por outros crimes, como furto e roubo para conseguirem o dinheiro e poder comprar a substância. A dependência química tem acometido pessoas cada vez mais jovens. Veem-se crianças e adolescentes usuárias de crack aos montes nas ruas da capital. Nadir conta que a “fissura” e a necessidade pela droga acabam influenciando, também, na gravidade das infrações.
Até pouco tempo, segundo ela, eram registrados muitos furtos e autos infracionais de menor potencial ofensivo. Com a necessidade de dinheiro para comprar droga e a dependência que interfere no psicológico e capacidade de controle da pessoa, os menores mudaram do furto para o assalto violento e roubos, empunhando armas de todos os tipos. “É o meio que eles têm para garantir o acesso à droga e, muitas vezes, até pagar dívidas de tráfico”, conta. A delegada frisa que traficante não perdoa quando o indivíduo deve para ele.
O promotor da infância e juventude de Goiânia, Alexandre Mendes Vieira, reconhece o avanço da droga como motivação para a criminalidade infantojuvenil, mas destaca que a reincidência de menores no crime é grande, também, porque a recuperação é ineficaz e não cumpre a função de reintegrar o jovem na sociedade. “Não temos tido o respaldo necessário para recuperá-los”, afirma. As medidas nos centros de internação e custódia, segundo ele, tem se mostrado absolutamente incapazes e sem resolução. E isso, muito mais por falha da administração, “que não garante o mínimo dos direitos ao adolescente”, justifica.
Desagregação familiar
Em casa, a realidade também não ajuda. Quando se vai investigar a vida dos menores, é comum lidar com casos de jovens que não respaldo ou acompanhamento familiar. Alguns são filhos, inclusive, de presidiários e praticam os mesmo crimes do pai ou da mãe. A delegada Nadir Cordeiro conta que já chegou até ela a situação de um menor chefe do tráfico e que herdou o posto do próprio pai, que cumpria pena na Penitenciária Odenir Guimarães (POG). “Além disso, falta o olho no olho, o afeto, o carinho e a presença dos pais na vida do filho”, diz a titular da Depai.

Fonte: o Hoje de Goiânia-GO
Folha de Goiás 14.10.2012 as 13:10 hs.


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