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06 janeiro 2012

Com a greve dos metroviários, usuários vivem verdadeiro martírio nos vagões

DISTRITO FEDERAL

Lucas Tolentino
Roberta Abreu
Publicação: 06/01/2012 11:00 Atualização: 06/01/2012 07:53
Se andar de metrô em dias normais é difícil, os desafios são maiores durante a greve dos servidores do sistema, que está perto de completar um mês. A começar pelo tempo médio de espera de 20 minutos para embarcar — em dias normais, o intervalo é de 5 minutos. Quando o trem chega, o que se vê é um empurra-empurra para garantir um lugar em um dos vagões. Uma vez dentro, é quase impossível encontrar uma barra livre para se segurar. Na hora de descer, mais problemas. Com o trem lotado, alcançar a saída é uma maratona porque muitas pessoas querem assegurar um lugar na porta.

A reportagem do Correio acompanhou o martírio dos usuários do metrô pela manhã e na volta para casa. Na noite de quarta-feira, uma equipe embarcou na estação central, na Rodoviária do Plano Piloto, até Águas Claras, nas linhas que seguem para Ceilândia e Samambaia. No começo da manhã de ontem, o trajeto percorrido foi de Ceilândia para o Plano Piloto. Em todos os lugares, a cena se repetia. Nem mesmo mulheres com crianças de colo conseguiam lugar para se sentar.

A greve dos servidores do Metrô completa hoje 26 dias. Enquanto o sindicato da categoria e o Governo do Distrito Federal não chegam a um consenso, a população enfrenta longas filas nas estações, viagens desconfortáveis e atrasos para chegar ao trabalho. O número de usuários caiu de cerca 100 mil nesta época do ano para 60 mil, segundo o diretor-presidente do Metrô-DF, David José de Matos.

A linha verde, responsável pela ligação entre Ceilândia e Plano Piloto, é a mais lotada. No início da manhã, os trens começam a encher nos primeiros pontos de parada da região administrativa distante 25km do centro de Brasília. Não há mais assentos livres e as barras de ferro parecem poucas para tantas mãos em busca de apoio. Ao se aproximar das estações de Taguatinga, os passageiros sentem dificuldades para entrar nos vagões. Muitos decidem aguardar o próximo trem.

A superlotação fica evidente na estação Praça do Relógio. Com uma mala de viagem em mãos e acompanhada de uma amiga, a operadora de caixa Marinalva Pereira, 35 anos, tinha certeza de que não haveria espaço quando viu a quantidade de pessoas pela janela do carro. As duas iam para a Rodoviária Interestadual e fizeram inúmeros pedidos de licença. Contaram com a compreensão dos usuários em se apertar ainda mais para conseguir um cantinho no vagão. “Não tem lugar suficiente para a gente se segurar. Já quase caí várias vezes”, reclamou Marinalva.

Para os deficientes físicos, é ainda mais difícil usar o sistema com os funcionários em greve. Cadeirante, o técnico em eletrônica José Arquimedes da Silva, 53 anos, deixou de recorrer ao transporte sobre trilhos em horários de pico. “Ainda bem que a maioria das coisas que preciso resolver pode ser feita mais tarde, depois das 9h”, explicou. Ontem, ele ia de Ceilândia à 114 Sul para dar entrada na documentação a fim de conseguir o passe livre. “A sorte é que, nas horas que o trem está mais cheio, as pessoas ajudam e dão passagem”, contou.

Sufoco
Na volta para casa, a maior concentração de passageiros é na estação central, na Rodoviária do Plano Piloto, onde a todo instante chegam mais pessoas. Ao longo do trajeto, os trens ficam mais lotados. A espera também é de cerca de 20 minutos. A dona de casa Jaqueline Alves Lima, 28 anos, passou por um sufoco. Acompanhada dos pais, Antônia e Raimundo, e do filho Murilo, de 3 anos, ela conta que a família esperou quatro trens até conseguir entrar. “Estava muito cheio. Essa greve é péssima e prejudica quem não tem nada a ver”, reclamou. Jaqueline, o filho e os pais são moradores de Águas Lindas (GO) e seguiriam de ônibus para casa após descerem em Taguatinga. “Ainda bem que não precisamos utilizar o metrô todos os dias”, completou Jaqueline, tentando se equilibrar com Murilo em um braço enquanto o outro estava enroscado na barra próxima à porta.

O servidor público Valdemar Alves de Oliveira, 53 anos, até tentou usar o carro durante a greve dos metroviários, mas desistiu após uma semana. “Apesar da demora, ainda é mais viável financeiramente”, explicou. Valdemar mora em Águas Claras e trabalha no Plano Piloto. Segundo ele, o horário mais cheio é no início da manhã. “Muita gente começa a trabalhar no mesmo período e na hora de ir embora dá para sair mais tarde”, avaliou.

A demora e a aglomeração de pessoas são as reclamações da servidora pública Sandra Silva, 52 anos. “Normalmente já é cheio. Com a greve, fica pior”, contou. Moradora da Águas Claras, ela contou que, para não se atrasar, sai de casa pelo menos meia hora mais cedo. “Essa greve prejudica a comunidade, mas se é o meio que (os trabalhadores) encontraram, temos que aguentar as consequências.”

Redução
Com a greve dos metroviários, o Metrô disponibiliza nove trens nos horários de pico, em vez de 24 vagões. Em outros períodos, esse número cai para seis. Fora do período de férias, 160 mil pessoas utilizam o sistema todos os dias. Reportagem Correio Braziliense-DF

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