Mantovani Fernandes
Marco Antônio Morbeck com o  relatório protocolado no Tribunal de Justiça de Goiás
Marco Antônio Morbeck com o relatório protocolado no Tribunal de Justiça de Goiás
A Polícia Civil protocolou ontem, no Tribunal de Justiça de Goiás, o pedido de interdição das sedes das torcidas Esquadrão Vilanovense e Sangue Colorado, do Vila Nova, e Força Jovem, do Goiás, e a suspensão de todas as suas atividades. Na prática, significa a extinção das três maiores torcidas organizadas do Estado - que juntas reúnem mais de 20 mil torcedores - em caráter emergencial e cautelar.

O pedido também inclui a proibição de sete líderes (veja quadro) das três torcidas de frequentarem os estádios goianos durante a realização de jogos do Goiás e Vila Nova, no prazo máximo de 1 ano. Eles foram indiciados no inquérito instaurado para apurar as atividades das torcidas organizadas acusados de formação de quadrilha, apologia ao crime e incitação ao crime.

Para garantir o cumprimento da medida, caso seja deferida pela Justiça, os líderes deverão comparecer e permanecer, durante a realização dos jogos, de 12 horas às 23 horas, na sede da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), em Goiânia.

Durante as investigações, a polícia constatou irregularidades administrativas nas torcidas, que não possuem a documentação necessária, e indícios de práticas de crimes envolvendo associados das torcidas.

Apesar de afirmarem contar com 11 mil torcedores associados, a polícia só encontrou 535 fichas na sede da Força Jovem Goiás, durante cumprimento de busca e apreensão realizada em diligências do inquérito. Levantamento feito pela Polícia Civil mostrou que 17% desses associados apresentam antecedentes criminais, inclusive dois com mandados de prisão expedidos. Dos crimes praticados, 7% são de roubos.

O relatório do inquérito indica que as torcidas, da forma como estão constituídas hoje, não podem continuar existindo e sugere "o cancelamento do registro de seus atos constitutivos e respectivas alterações no cartório competente, liquidação de seus patrimônios, exclusão de todo e qualquer material pertinente na internet, recolhimento de todo material alusivo às marcas (camisetas, bonés, adesivos) e proibição da utilização de tais materiais em eventos esportivos".

O gerente de Planejamento Operacional da Polícia Civil, Marcelo Aires de Medeiros, espera que o pedido seja apreciado antes do clássico de sábado, entre Goiás e Vila Nova, em partida válida pela Série B do Campeonato Brasileiro. Ele explicou que, caso a Justiça defira os pedidos, os indiciados que não cumprirem a determinação de se apresentarem na Deic, durante a realização dos jogos, estarão sujeitos a prisão preventiva, conforme determinado em lei. A proibição, diz, é prevista no Estatuto do Torcedor e no novo Código de Direito Processual.

Sem controle
Apesar de intituladas torcidas organizadas, o inquérito policial concluiu que não existe nenhum controle dos associados, todas as agremiações possuem pendências administrativas e falta de licenças. Nenhuma das torcidas possui alvará sanitário - a Sangue Colorado, fundada há mais de 1 ano, não tem qualquer cadastro na Prefeitura de Goiânia e nem estatuto, conforme informado à polícia. "Além da apreensão de drogas em poder de torcedores, também causou surpresa aos policiais a total falta de higiene (insalubridade) e organização naquelas sedes, especialmente na Esquadrão Vilanovense, instalada em um imenso galpão de mais de 1 mil metros quadrados. O que se viu no local foram garrafas e latas de cerveja jogadas pelos cantos, mesa de sinuca sendo utilizada por menores, banheiros sem qualquer condição sanitária, inclusive com indícios de que estava sendo utilizados para o uso de drogas, lixo e mais lixo por todos os lados", cita o relatório.

Responsável pela condução do inquérito, o delegado adjunto da Deic, Marco Antônio Morbeck, afirma que as torcidas são irregulares e funcionam em ambientes insalubres, onde se permite a prática de jogos e o consumo de álcool, inclusive por adolescentes, bem como o uso de drogas. Durante cumprimento de mandados de busca e apreensão, a polícia encontrou jovens portando entorpecentes nas sedes da Força Jovem e da Esquadrão Vilanovense.

Segundo o delegado, as investigações apuraram informações desde 2007 e mostraram a escalada de crimes envolvendo integrantes de torcidas organizadas, com acirramento da rixa entre as torcidas e aumento da violência a partir de 2009, quando a polícia registrou uma tentativa de homicídio.
fonte: o popular
folha 09:34