Wildes Barbosa
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Longevidade
Vigilante Willian de Sousa Rodrigues, a sete meses da aposentadoria, e faxineiro Espedito Felix Silva, já aposentado, mostram dedicação no trabalho
Envelhecimento
A quantidade de goianos com idade acima de 60 anos cresceu, os idosos reconquistaram espaço no mercado de trabalho, mas a qualidade de vida deles não acompanhou este avanço. Essa parcela da população aumentou 56% em Goiás na última década, acompanhando tendência nacional. No entanto, o crescimento não foi correspondido por melhorias na qualidade de vida desta população.

Os idosos goianos têm menos escolaridade, renda e casa própria em comparação com a média brasileira, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E ainda vivem em condições precárias de saneamento, o que interfere diretamente na saúde dessas pessoas.

Aos poucos, Goiás vai se tornando mais "grisalho". A população idosa saltou de 358 mil para 561 mil pessoas nos últimos dez anos. Em 2000, esse grupo correspondia a 7,1% dos moradores de Goiás. Agora, esse porcentual passou para 10,4% do total de habitantes. No final das próximas três décadas, por volta de 2040, a tendência registrada é de que os idosos sejam quase 40% do povo goiano. Apesar de representar uma parcela crescente da população, eles continuam preteridos diante de oportunidades e também políticas públicas.

As deficiências históricas da educação no Brasil são ilustradas sobretudo pelos idosos, que passaram poucos anos na sala de aula. Isso se deve uma vez que na infância deles o analfabetismo era a regra no País. Porém, os goianos estudaram menos ainda. Quem está na terceira idade em Goiás teve média de 3,2 anos de estudo, um a menos que a média brasileira. A proporção se inverte na medida em que se ganham anos de escolaridade. No Brasil, 17,1% dos idosos têm mais de nove anos estudo enquanto que no Estado esse porcentual não passa de 13,2%.

Os idosos goianos vivem em casas de terceiros em maior proporção que a média nacional ( veja quadro ). Eles moram predominantemente na zona urbana das cidades e a maioria são mulheres. Os números também mostram que mais pessoas brancas chegam à terceira idade em relação aos que se declaram negros ou pardos.

Os idosos também ganham menos. Quase a metade deles recebe até um salário mínimo de aposentadoria, de pensão ou de ambos. Trata-se de uma renda que proporciona vida com dificuldades, sobretudo aos mais de 62% que são chefes de família, considerados estatisticamente como os provedores principais do lar.

Apenas 30% da população goiana na terceira idade tem seus recursos provenientes de outra fonte de renda. E o caso, por exemplo, de Willian de Sousa Rodrigues, que ganha a vida como vigilante de um supermercado. Restam ao vigilante somente sete meses para conseguir aposentadoria e por esse motivo ele se esforça ainda mais no trabalho. Não quer o desemprego nessa fase da vida. O mesmo pensamento tem Espedito Felix Silva, que faz serviços gerais no mesmo estabelecimento. Ele chegou a ficar cinco meses desempregado, se achava velho e não imaginava voltar a reconquistar um espaço no mercado de trabalho.

Os dois são considerados funcionários comprometidos pela direção do supermercado, até porque as condições em que os idosos vivem não permite desleixo no trabalho. A gerente de Recursos Humanos do estabelecimento, Kárita Luiza do Amaral, explica que os funcionários na terceira idade são os que mais valorizam o serviço e que têm menor rotatividade.

Expectativa de vida
Apesar das condições pouco favoráveis, a população goiana na terceira idade só cresce. As últimas pesquisas revelam que aumentou a expectativa de vida do goiano ao nascer, que passou de 70 para 73 anos em apenas uma década. Na opinião do professor Edson Vieira, da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Goiás (UFG) e um dos coordenadores do Censo 2010 no Estado, esse crescimento está relacionado sobretudo com o avanço da escolarização, já que assim também se promove um maior acesso a informações e à saúde.

Descendentes

Embora os idosos goianos tenham menos anos de escolaridade do que a média nacional, reflete na longevidade o acesso à educação dos seus descendentes e da pequena parte dos senhores e senhoras que conseguiram se manter nas salas de aula. Na medida em que a sociedade se informa e se educa, os cuidados com a saúde aumentam. De acordo com o diretor do Instituto de Estudos Socioambientais da UFG, João Batista de Deus, os avanços na medicina, as campanhas de vacinação, a maior percepção das enfermidades e a prevenção das doenças ajudaram os goianos a ter expectativa de viver uns anos a mais. "Goiânia é um centro médico regional de referência", acrescenta João Batista de Deus.

Mas ainda há muito o que avançar. Os goianos vivem cerca de dez anos a menos que um japonês, que detém a maior expectativa de vida do planeta: 82,6 anos. O principal entrave que se vislumbra no momento é parca infraestrutura de saneamento básico. Os indicadores de Goiás são ruins. Só 36% dos domicílios têm sistema de esgoto e apenas 2% têm a fossa séptica ligada à rede coletora.

fonte o popular
folha 9:29