Apesar do crescimento demográfico e do desenvolvimento econômico registrado nas últimas décadas, os 19 municípios que formam a Região Metropolitana de Goiânia ainda mantêm uma relação de dependência forte com a capital. De maneira geral, em maior ou menor grau, esse aspecto se evidencia em áreas como saúde, educação, lazer e geração de empregos. Neste último caso, apesar de algumas cidades terem adquirido força própria, muitas delas ainda se configuram como as chamadas cidades-dormitório.

Numa análise com viés econômico, a proximidade com a capital não chega a ser garantia de sucesso nas finanças das cidades circunvizinhas. Para ter ideia, apenas quatro municípios da Grande Goiânia figuram entre os 25 que têm maior Produto Interno Bruto (PIB) - ver reportagem na página 6 .

Para o urbanista John Mivaldo da Silva, assessor técnico do Conselho Regional de Engenharia, A rquitetura e Urbanismo (Crea) e presidente regional do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Goiânia é um polo de dependência de vários serviços públicos para os municípios que compõem a região metropolitana.

"Isso é uma coisa ruim até para a autoestima das populações que vivem nessas cidades e dependem tanto da capital. Em linhas gerais, há até mesmo uma crise de identidade dos moradores das cidades muito próximas a Goiânia. As pessoas acham que é demérito dizer que moram em Aparecida ou Senador Canedo. Acham que é melhor dizer que vivem na capital", salienta o urbanista.

John Mivaldo destaca que cabe ao poder público estruturar melhor os equipamentos e serviços urbanos para que as cidades vizinhas não fiquem tão dependentes de Goiânia. "Além disso, os municípios também precisam ter força própria. Hoje eles são muito dependentes de repasses estaduais ou federais", justifica o urbanista.

Vice-versa

Em outro sentido, os municípios vizinhos não podem ser considerados como apenas dependentes da capital, já que ela, em certo sentido, também depende deles. Afinal de contas, as cidades que compõe a Grande Goiânia também acabam contribuindo para o fortalecimento da economia goianiense e têm se tornado cada vez mais um escape para o uso do solo da cidade vizinha.

"A mobilidade para trabalho e estudo das pessoas dos 19 municípios implica em consumo e fluxo de renda para a capital. As milhares de pessoas que se deslocam diariamente, seja para utilização de equipamentos de saúde, educação ou lazer, também são funcionais para a economia da capital. Em certa medida, influenciam a regulação do estoque de empregos e salários da capital", explica o geógrafo Tadeu Arrais, professor adjunto do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Moradia
Além disso, ele acrescenta que os municípios da Grande Goiânia atendem a demanda por moradia da capital desde a década de 1970, quando se incrementou o processo de conurbação. Primeiro foi Aparecida e, mais recentemente, cidades como Bela Vista, Senador Canedo, Trindade e Hidrolândia que passaram a receber empreendimentos imobiliários voltadas claramente para o público goianiense.

"A conversão de áreas rurais dos municípios periféricos para condomínios fechados de primeira e/ou segunda residência é uma tendência irreversível e com impactos negativos para os municípios periféricos, já que a vida de relações dos residentes, em grande medida, ainda ocorre em Goiânia", argumenta o professor Tadeu Arrais.

O pesquisador salienta que a própria dinâmica de formação e consolidação da Região Metropolitana de Goiânia tem relação com a questão fundiária, quando o estoque de terras na capital foi inflacionando. "A solução, além das clássicas estratégias de remoção da população pobre para áreas sem infraestrutura, foi acionar, mobiliar, os estoques de terras mais próximos, ou seja, os municípios vizinhos que haviam se emancipado", reforça Tadeu Arrais.
fonte o popular


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