Cristina Cabral
Usuária sentada e pessoas espalhadas pela área de tráfego dos ônibus no Terminal  Praça A
Usuária sentada e pessoas espalhadas pela área de tráfego dos ônibus no Terminal Praça A
Gabriel Henrique da Costa, o menino de 7 anos que foi parar debaixo da roda de um ônibus que abriu a porta de desembarque em movimento no Terminal Vera Cruz, e Maria Zulmira Gerolineto, a diarista de 57 anos que teve a perna esmagada ao cair da plataforma quando tentava embarcar no Terminal Garavelo, são vítimas fatais de um sistema de transporte coletivo sem controle.

A fiscalização da Companhia Metropolitana do Transporte Coletivo (CMTC), cargo indicado pelo governo estadual, é insuficiente. São 43 fiscais para atuar, em três turnos, nos 19 terminais da região metropolitana, em pontos de ônibus e locais estratégicos das linhas. Considerando as escalas de folga desses profissionais, todos os terminais de Goiânia passam, inevitavelmente, pelo menos um turno por dia sem sequer um fiscal.

Segundo o Ministério Público (MP), o controle da CMTC é apenas aparente e nisso a operação das linhas acaba "correndo solta", como disse um motorista. "Se o fiscal multar um ônibus aqui, no dia seguinte ele é remanejado (de terminal)", contou ele, que em mais de quatro anos de serviço nunca foi multado. "Não faço por onde (ser autuado), eu respeito as normas, mas nunca vi motorista tomar multa no terminal", disse.

"A única coisa que a CMTC fiscaliza é o transporte clandestino, porque isso fere o interesse das empresas", disse um ex-integrante da CMTC. Apesar da insistência da reportagem, tanto a CMTC quanto o consórcio das empresas (RMTC) não divulgam o número de multas e procedimentos administrativos que apuram irregularidades cometidas nas operações.

A falta de fiscalização estimula também os usuários a assumirem riscos. Ontem, no terminal Garavelo, a reportagem flagrou uma passageira que permaneceu sentada na plataforma de embarque durante a passagem de três veículos, todos rentes aos seus pés. "Minhas pernas estão cansadas", disse. Noutra situação, uma senhora desceu a plataforma e, da pista, batia na porta fechada de um ônibus, tentando embarcar. O ônibus arrancou e ela insistiu batendo na porta até que o veículo se distanciasse.

Nesta semana, O POPULAR mostrou que a cada três dias uma vítima de acidente de trânsito envolvendo ônibus do transporte coletivo é atendida no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). Em 2010 foram 143 atendimentos e no primeiro semestre deste ano outros 53 casos foram registrados, o que dá uma média mensal de 11,92 e diária de 0,39.

Para o diretor geral do consórcio das empresas, Leomar Avelino, o número de acidentes, se comparado ao número de passageiros transportados, é razoável. "Contando com os casos menores, que não são levados para o Hugo, dá um número aproximado de 20%", disse. Ele ressalta, porém, que é necessário transformar esse número em indicador.

"Na Região Metropolitana de Goiânia é preciso transportar 46 milhões de pessoas, o que fazemos em quase três meses, para ocorrer um acidente com vítima fatal. Se pegarmos o índice de pessoas machucadas, são 1 milhão de pessoas transportadas. Ou seja, seria transportar Goiânia toda para que alguém tivesse algum tipo de lesão, é um número baixo, mas estamos falando de vidas, não é?".

O garoto Gabriel teve a bacia esmagada no último dia 15 e morreu domingo passado, no Hugo. Ele caiu quando um ônibus da Viação Reunidas Ltda abriu a porta de desembarque ainda em movimento e distante da plataforma. Maria Zulmira foi atingida no dia 12 passado por um ônibus da HP Transportes, ficou internada oito dias no Hugo, teve a perna amputada e não resistiu a uma parada cardíaca na tarde do último dia 20.

 fonte o popular
folha 10:29